Por que mudamos nosso desempenho de excelente para bom e continuamos a cair sem perceber?

          No livro COMO AS GIGANTES CAEM, Jim Collins1 conclui que existem mais maneiras de cair do que se tornar excelente e neste sentido ele apresenta o modelo dos Cinco Estágios do Declínio. Empresas podem cair sem seguir este modelo a risca, porém conhecê-los pode ser útil na busca de detectar ou reverter o processo de declínio.

           “O fato de você triunfar ou fracassar, sobreviver ou morrer, depende mais do que você faz a si mesmo do que daquilo que o mundo faz a você”. JIM COLLINS

Estágio 01: O EXCESSO DE CONFIANÇA PROVENIENTE DO SUCESSO.

          O Estágio 01 começa quando as pessoas se tornam arrogantes, sentido que têm direito ao sucesso e perdem de vista os fatores básicos que verdadeiramente criaram o sucesso da empresa. Quando a retórica do sucesso – “Temos sucesso porque fazemos essas coisas específicas”- substitui o profundo conhecimento – “Temos sucesso porque sabemos por que fazemos essas coisas específicas e em quais condições deixam de funcionar”,  o declínio provavelmente se seguirá.

ESTÁGIO 02: A BUSCA INDISCIPLINADA POR MAIS.

          O excesso de confiança do Estágio 1 – “Somos demais, podemos fazer qualquer coisa!”, leva a empresa ao Estágio 2, A busca Indisciplinada por Mais – mais escala, mais crescimento, mais aplausos, mais qualquer coisa que as pessoas no poder consideram constituir o “sucesso”.

          No Estágio 2, as empresas se desviam da criatividade disciplinada que as levaram à excelência, promovendo incursões indisciplinada a áreas nas quais não podem ser excelentes ou crescendo mais rapidamente do que é possível fazer com excelência, ou ambos.

ESTÁGIO 03: A NEGAÇÃO DE RISCOS E PERIGOS.

          À medida que as empresas vão passando para o Estágio 03, sinais de alerta interno começam a se acumular, mas os resultados externos permanecem fortes o suficiente para que dados perturbadores sejam ignorados ou para sugerir as dificuldades são “temporários” ou “cíclicas” ou “não tão ruins” e que “não há nada fundamentalmente errado com a empresa”.

          No Estágio 3, os líderes negligenciam os dados negativos, enfatizando os dados positivos e imprimindo um viés positivo aos dados ambíguos. As pessoas no poder começam a culpar os fatores externos pelas dificuldades, em vez de assumir a reponsabilidade por elas.

          Quando as pessoas no poder começam a colocar o empreendimento em perigo assumido riscos descomunais e agindo de forma a negligenciar as consequências desses riscos, estão se encaminhando diretamente ao Estágio 4.

ESTÁGIO 04: A LUTA DESESPERADA PELA SALVAÇÃO.

          O acúmulo das consequências negativas dos perigos e/ou riscos assumidos no estágio 03 começam a pesar, lançando o empreendimento em um abrupto declínio, visível a todos. A questão crítica é: Como a liderança reage a isso? Eles tentam recorrer a uma rápida salvação ou retomam a disciplina que produziu o sucesso da empresa no passado? As Pessoas que tentam a salvação rápida caíram no estágio 04. “Salvadores” comuns incluem um líder visionário carismático, uma estratégia ousada, mas não comprovada, uma transformação radical, uma drástica revolução cultural, um novo produto que se espera ser campeão de vendas, uma aquisição para “mudar o jogo” ou quaisquer outras soluções consideradas “geniais”.

          Os resultados iniciais de ações dramáticas podem parecer positivos, mas não duram muito.

ESTÁGIO 05: A ENTREGA À IRRELEVÂNCIA OU À MORTE.

          Quanto mais tempo uma empresa permanecer no Estágio 04, tentando repetidamente encontrar soluções geniais, mais chances tem de cair. No Estágio 05, as derrotas e os tropeços dispendiosos desgastam a força financeira e o moral das pessoas até o ponto em que os líderes perdem toda a esperança de construir um bom futuro.

          Em alguns casos, os líderes se limitam a vender ações; e nos casos mais extremos, o empreendimento morre.

          O texto acima foi copilado do livro já citado1,  páginas 15 a 17.

          Nos 18 anos em que atuei no sistema financeiro e nos últimos 05 anos como advogado,  fui testemunha do nascimento, crescimento e morte de vários empreendimentos e em muitos casos os Estágios eram  claros, porém nem sempre  eram levados em consideração.

          Algumas empresas conseguiram  mudar sua cultura e sair do ciclo vicioso em que estavam inseridas, outras mergulharam em um processo de insolvência sem volta.

          A provocação que quero fazer é no sentido de  buscar a reflexão do porquê muitas micros e pequenas empresas,  após ultrapassarem o Estágio 05 e entrarem num processo de insolvência irreversível, simplesmente abandonam a empresa a própria sorte.

          Com a  celeridade instituída através da reforma processada pela  lei 14.112/2020 na Lei de Recuperação Judicial e Falência (lei 11.101/2005), tenho a esperança de que  esta sorte mude e que falido não seja  alcunha de calote, sinônimo de má fé e nem  de condenação  à pena perpétua de não mais empreender.

          Diferentemente do que muitos acham, o processo falimentar também tem por finalidade extinguir as obrigações do falido e reabilitar o empresário, senão vejamos:

          Art. 158. Extingue as obrigações do falido:

                                               …

          V – O decurso do prazo de 3 (três) anos, contado da decretação da falência, ressalvada a utilização dos bens arrecadados anteriormente, que serão destinados à liquidação para a satisfação dos credores habilitados ou com pedido de reserva realizado; (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)

          VI – O encerramento da falência nos termos dos arts. 114-A ou 156 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)”

          Quem é falido é a sociedade empresária e não seus sócios, nestes termos a lei garante o direito a pessoa física a empreender novamente após o período de carência elencado na lei 11.101/2005.

          Fracasso passado não é sinal de incompetência futura.

 



Deixe uma resposta